Por que perdemos?

Comecei a acompanhar Copa do Mundo em 1986, com 6 anos de idade. Lembro de nossa derrota para a França nos pênaltis e de o país inteiro encontrar um motivo para a eliminação: "O Zico errou aquele pênalti". Como flamenguista, foi difícil para mim conviver com aquilo, e lembro de chorar, tanto no último pênalti convertido pela França quanto depois, ouvindo as reportagens sobre a eliminação do Brasil. Minha cabeça de criança tinha uma pergunta (ou comentário) engasgada, mas eu não falei para ninguém. Eu tinha vergonha de dizer algo contra o pensamento majoritário.

Quatro anos depois, o Brasil foi derrotado pela Argentina nas oitavas de final da Copa do Mundo, graças a derrota da Argentina para Camarões no jogo de abertura da copa. Voltava a pergunta: "Por que perdemos"? Com 10 anos de idade, ouvi várias explicações: "O Lazaroni é burro". "O Alemão não fez falta no Maradona porque eles são amigos". O mesmo pensamento de quatro anos antes voltou a passar pela minha cabeça, mas novamente fiquei quieto.

Em 1994, o Brasil sagrou-se campeão mundial, vencendo os EUA com um jogador a menos nas oitavas, a Holanda com gol no final nas quartas, a Suécia com gol no final nas semifinais e a Itália nos pênaltis. Dessa vez, a tal pergunta (Por que perdemos?) não era ouvida. Ao contrário, tínhamos várias explicações para o "Por que ganhamos?". Alguns diziam que ganhamos por causa do Romário. Outros diziam que foi por causa do Taffarel. Os românticos diziam que era por causa do Dunga. Aquele pensamento não saia da minha cabeça, mas deixei para lá de novo, e fui comemorar. O título de 1994 foi a maior alegria que tive no esporte até hoje.

Em 1998, fomos goleados pela França na final, depois de eliminarmos a Holanda nas semifinais. Para quem não lembra, nossa vitória sobre a Holanda foi, no mínimo, questionável. Eles foram melhores em 110 dos 120 minutos de jogo, mas o Taffarel nos salvou. Chegando a final, fomos derrotados categoricamente pela França do genial Zidane. Mas ao final do jogo, a resposta estava pronta: "Perdemos por causa da convulsão do Ronaldo". Lembro que aquela foi a primeira vez que eu manifestei minha visão (diferente da maioria) para todos. E lembro de ser "calado" por vários amigos, imprensa, etc. Não adiantava pensar diferente. O Brasil perdeu por causa da convulsão do Ronaldo e ponto final.

Em 2002, conquistamos mais uma Copa do Mundo, sob o comando do Felipão. Ganhamos da Bélgica nas oitavas mesmo sendo deles as melhores chances de gol da partida. Viramos o jogo contra a Inglaterra nas quartas de final graças ao brilho de um único jogador (Ronaldinho Gaúcho), que desmontou sozinho toda a superioridade da equipe inglesa na partida. Ganhamos da Turquia (isso mesmo, da Turquia) nas semifinais por 1x0, num jogo mais do que sofrido. Na final, superamos a Alemanha numa partida exuberante de Rivaldo, e com dois gols de Ronaldo. Os motivos para o título foram fáceis: "Família Felipão". "Gênio Ronaldo". E eu continuava aqui, com algumas dúvidas, mas novamente fui comemorar e deixei meus pensamentos de lado.

Na Copa de 2006, a derrota para a França nas quartas de final foi considerada para muitos a "crônica de uma morte anunciada". Eu fiquei surpreso, porque antes do jogo, quando eu perguntava para os amigos do bolão e todos outros conhecidos, todos tinham certeza de que o Brasil ganharia aquele jogo. Mas depois do jogo tudo mudou. Achamos o motivo rapidamente: "Perdemos por causa da bagunça de Weggis, a falta de seriedade". E o idiota aqui continuava com uma pulga atrás da orelha, pensando que o motivo era completamente diferente.

No dia de ontem, o Brasil foi mais uma vez eliminado de uma Copa do Mundo. Perdemos para a Holanda, nas quartas de final, e as explicações já começaram: "A falta de reservas capazes de mudar o jogo foi o motivo pela eliminação". Outros dizem: "Felipe Melo foi o culpado". Diferentemente das outras vezes, agora não vou me calar. Diferentemente das outras vezes, vou GRITAR para o mundo o meu pensamento. Diferentemente das outras vezes, não vou aturar que as pessoas ME CONVENÇAM do que eu não acredito.

Para mim, o Brasil perdeu ontem única e exclusivamente porque é um time parelho com a Holanda. E quando dois times parelhos jogam num mata-mata, um deles tem que perder. Foi assim contra a França em 1986, 1998 e 2006, foi assim contra a Argentina em 1990. Também foi assim contra a Holanda em 1994 e 1998. Foi assim contra a Alemanha em 2002. Foi assim contra a Itália em 1994. Desde que eu comecei a acompanhar Copa do Mundo, ganhamos mais do que perdemos nesse tipo de jogo. Ontem foi a vez de perdermos, ponto final. Claro que se o Ganso tivesse no banco poderíamos ter sonhado mais... Claro que se o Felipe Melo estivesse em casa poderíamos ter sonhado mais... Mas também é importante lembrar que é mais fácil culpar o Dunga e o Felipe Melo do que o Kaká, que fez uma Copa bem abaixo do que esperávamos e precisávamos. Não quero dizer com isso que o Kaká é culpado, por favor. Só quero lembrar que a busca obssessiva por culpados é interminável e inútil.

Em 1998, a França nos goleou na final da copa com uma estratégia perfeita, marcando nossos laterais e meias, deixando a criação nos pés dos zagueiros e volantes. E isso matou o nosso time. Ontem, tivemos um primeiro tempo excelente, mas o gol da Holanda, no começo do segundo tempo, destruiu nosso time. Isso acontece. Talvez a grande diferença de ontem para 1994 e 1998 esteja na imagem que ilustra a postagem de hoje. A Holanda, pela primeira vez, aceitou ganhar jogando feio, uma coisa que se recusava a fazer no passado. Sem dúvidas, a Holanda é a melhor seleção do mundo a nunca ter conquistado uma Copa do Mundo, e essa mudança de mentalidade talvez seja o caminho para o primeiro título dos laranjas.

Enquanto não entendermos que a lógica do esporte inclui vitórias e derrotas, continuaremos procurando culpados para todas as nossas derrotas, quando na verdade, deveríamos estar valorizando a vitória dos outros.